Entrevista: Do futebol às panelas. Nandinho, ex-futebolista, conta à Batunews as “odisseias” da vida.
A Batunews foi ao encontro do ex-futebolista angolano, Nandinho Macamo, que actuava como médio e que responde pelo de nome de registo, Wilson Fernandes Augusto Macamo.
Actualmente com 38 anos de idade, Nandinho, deixou os relvados em 2021, quando esteve ao serviço do desistente do actual Girabola, Cuando Cubango FC. Hoje com uma vida longe do futebol, Nandinho, ganha a vida “dando de comer” aos seus clientes que diariamente, deslocam-se ao seu espaço, onde se dedica no ramo da restauração. Daí extraímos o título desta entrevista exclusiva: “Do futebol às panelas. Nandinho, ex-futebolista, conta à Batunews as odisseias da sua vida”.
Segue a entrevista.
1- Por onde anda e o que é feito de Nandinho?
R: Nandinho anda mesmo em Luanda. Cuidando de si e de sua família.
2 – Nandinho já pendurou as chuteiras? Quando? E qual foi o último clube onde jogou?
R: Nandinho já pendurou sim as chuteiras. E foi em 2021. Na altura estava a jogar no Cuando Cubango FC.
3 – Terminou a carreira com quantos anos e quantos tem hoje?
R: Nandinho terminou a carreira com 36 anos, e hoje estou com 38 anitos.
4 – Terminou a carreira por conta da idade ou por outra razão?
R: Terminei a carreira por conta mesmo das condições oferecidas pelo clube, e pelas condições daquilo que estávamos a passar com a situação do COVID. Houve a necessidade de estar perto da família e juntos abraçar outros projectos que me colocavam próximo da minha família. Acho que o cansaço de estar longe também falou mais alto.
5 – Normalmente, os ex-jogadores profissionais depois de terminar a carreira, fazem formação para serem treinadores. É o caso de Nandinho?
R: Realmente é isso que tem acontecido. A gente vive uma determinada carreira, e logo a seguir, a gente quer sempre fazer parte do mesmo. Talvez como treinador ou mesmo fazer parte de uma direção desportiva. Mas o meu caso foi mesmo diferente, porque mesmo a jogar futebol durante tanto tempo, nunca me vi numa dessas posições. Sempre disse que iria fazer parte de outra coisa que amasse, e verdade seja dita, nunca me vi a ser treinador ou dirigente desportivo. E hoje tenho uma vida longe dos relvados.
6 – Teve muitas decepções no futebol angolano? Já foi internacional pelos Palancas Negras?
R: Falando um pouco da vida, seja ela no desporto ou na vida social, sempre vamos encontrar decepções em tudo. Apenas precisamos ser fortes e entender que nada é de graça, e tão cedo eu aprendi que a vida não dá nada de favor, a gente precisa ralar muito para ter o que sempre almejou. E comigo não foi diferente. Venci perdi e fui muito feliz no futebol nacional. E fazer parte dos Palancas, foi o culminar de um trabalho e reconhecimento por tudo aquilo que fiz ao futebol nacional (fui muito feliz). E hoje sou grato por tudo aquilo que o futebol fez por mim e pelos meus.
7 – O que o futebol lhe deu na vida?
R: Futebol me deu muita coisa. Desde a saúde até a estabilidade financeira.
8 – Normalmente é comum ouvirmos histórias de ex-futebolistas que após carreira, vivem problemas sociais e financeiros. Como está a sua vida nesse sentido?
R: (Risos). Realmente a integração na sociedade após carreira (futebol), não é fácil para ninguém. Porque estamos numa sociedade em que ainda falta muita coisa, o futebol nos da algo que a vida real não tem, e a gente vive anos e anos naquele mimo e conforto, achando que aquilo nunca vai acabar. Uns se perdem naquilo que é a sua gestão e outros conseguem perceber que a vida de um desportista, começa quando a sua carreira termina. E pra muitos tem sido difícil essa integração a sociedade. E falando de mim, não foi fácil porque logo após pendurar as chuteiras, eu tive o azar de perder a minha esposa, e aquilo foi um balde de água fria. Eu tinha ela como meu escudo meu amuleto da sorte, por eu não fazia absolutamente nada, sem falar com ela ou sem uma orientação dela. E naquele instante eu pensei que o mundo para mim acabou! Mas olhando um pouco pra Bíblia (Deus sabe o que faz). E eu parei de questionar a Ele. E hoje vivo na sua orientação. Só para dizer que o Nandinho está bem e gerindo a vida da melhor maneira possível.
9 – Há ainda algum clube que lhe deve?
R: Por incrível que pareça, Nandinho hoje, é um cozinheiro profissional graças a Deus. Uma paixão que carrego desde pequeno! E sobre dívidas contratuais, tenho uma com o Libolo. Mas de forma amena tenho tentado resolver com alguns dirigentes.
10 – Como avalia o futebol angolano e o Girabola na altura que ainda jogava e actualmente?
R: Fazendo uma avaliação do nosso futebol!? Para ser sincero eu nao gosto de falar de futebol, até mesmo quando jogava. Sempre fui de olhar para outras coisas, a fim de crescer e buscar conhecimento que um dia iria me dar força para continuar a caminhar na estrada da vida, porque sabia que um dia o futebol acabaria, e não tendo sonho de ser treinador, então sempre olhei mais por aquilo que me interessava (que era a minha segunda paixão, cozinha). Pessoa que jogavam comigo podem confirmar esse meu lado. Eu cozinhava pra todos que viviam comigo. Tudo para aprender mais e lia e via muitos vídeos de chefes mundiais e via muito pouco futebol, visto que muitas das vezes, eu nem conhecia tanto assim de futebol (risos). Mas todos nós temos paixão em falar do nosso tempo de futebol. Cada um diz que no seu tempo foi melhor ou coisa parecida. E eu não irei fugir a regra. Embora hoje temos o fraco investimento no desporto, que é lamentável ver como as equipas têm se arrastado para se manter de pé! Então a minha comparação é essa. O meu tempo foi melhor mas respeitando o tempo de cada um. E admiro a geração dos Akwá, Cáli, Figueiredo, Zé Kalanga, meu cota Flávio, entre outros. Verdadeiros craques, todos eles têm o meu respeito e admiração. E não falo muito do futebol de hoje, porque na verdade, não tenho acompanhado 100% por isso não opino para não errar e ferir sensibilidades.
11 – Nandinho agora é um cozinheiro chefe profissional, certo? Quando é que se tornou? É sua paixão antiga?
R: Para ser sincero, ainda não sou um cozinheiro chefe. Apenas sou um cozinheiro profissional. Acreditando que ainda só um embrião nesta minha nova aventura (amor e paixão pela cozinha). Coisa que nasceu há muito tempo. Na altura sendo um garoto de apenas 11 anos. A mãe era vendedora e viajava muito para buscar mercadoria, e eu muito cedo tive que cuidar dos meus irmãos. Aquilo era arrumar lavar, engomar e cozinhar para eles. E isso me levou amar de tal maneira o fogão (risos). É o amor pela cozinha. Me tornei cozinheiro o ano passado. Fiz a formação de cozinha e restauração aqui no CINFOTEC – Talatona, onde depois tive um estágio, no hotel Trópico, de aproximadamente 5 meses. E hoje por decisão própria me vi no direito de caminhar com as próprias pernas.
12 – Tem um restaurante? Localização do mesmo?
R: Tenho sim um espaço. Está localizado aqui na Sapú 2, Projecto Nandó, Casas Azuis, próximo à igreja do Sétimo dia. Contacto: 923499338.
13 – Dá para viver dignamente e pagar suas contas?
R: Em qualquer começo de negócio, as perdas são sempre maiores que os ganhos, mas a gente vai aprendendo como gerir e com ajuda as coisas vão se alinhando. E hoje ainda é muito cedo para falar sobre sobreviver do meu espaço (negócio). Mas acredito que estou num bom caminho, e tenho tudo para vincar e suprir minhas necessidades por conta do mesmo.
14 – Como qualifica a sua carreira de futebolista? Qual era seu maior sonho como atleta?
R: Pergunta muito pertinente. Mas boura lá falar disso….eu em particular, avalio minha carreira de forma positiva. Uns dizem que poderia ter feito mais e ir mais longe se dentro de mim tivesse um pouco de mais ambição. Verdade seja dita; hoje eu me pergunto se na verdade eu gostava tanto assim de futebol, ou foi um refúgio que eu achei que rapidamente eu daria uma vida boa a minha família!?! Hoje me faço essa pergunta. E a verdade é essa, futebol era para buscar aquilo que talvez nenhum emprego de lavador de carro ou cobrador de táxi iria me dar. Porque na verdade eu não era e nunca fui um bom aluno. Mas buscava conhecimento em outras paradas a fim de crescer mentalmente. E falando sobre sonho como atleta!? Era ganhar títulos chegar à seleçcão e como já havia dito, dar um outro estilo de vida à minha família.
15 – Como está a ver o actual campeonato de futebol (Girabola)? Está a ser bem disputado?
R: Para ser sincero, o Girabola sempre foi muito bem disputado, e hoje mesmo sem olhar para ele com maior frequência e atenção acho que não fugiu à regra. E sei que existe uma luta grande entre o Petro/ D’Agosto. Luta essa que já vem de muito tempo. E sei que parece que o Petro tem alguns jogos em atrasos!
16 – Fale-nos dos seus sonhos agora como ex-futebolista…
R: (risos). Vou falar somente do futebol. Espero que as coisas melhoram esse é meu sonho para o futebol nacional, espero um dia ver as coisas mudarem. E hoje já longe do futebol, meu sonho é ver meus filhos crescer com saúde e terem a direção certa na vida. E eu chegar ao patamar de um Master Chef reconhecido a nível nacional e internacional!
17 – Em clubes jogou? Foi campeão em algum deles?
R: Digamos que no futebol eu fui um nómada (pessoa sem casa própria, a estilo cigano) risos…eu comecei minha formação na escola dos Flamenguinhos Terra Nova. Alcancei meu escalão sénior no Bravos do Maquis, onde tive o privilégio de ser campeão da segunda divisão, clube onde fiquei 3 anos, isso em 2006, onde tive também o privilégio de ter a minha primeira chamada à seleção pelo professor Oliveira Gonçalves, isso para um jogo para Taça COSAFA, onde ganhamos o Zimbábue por 2-0, acho eu, com golos apontados por Love Kabungula e Chinho ou Santana Carlos. E depois seguiu 2007 e 2008. Em seguida em 2009, fui a Calulo (Libolo), onde no mesmo ano, fui vice-campeão atrás do Petro. Onde tive a honra de ser coroado como jogador revelação no mesmo ano. E o Job eleito o melhor jogador do ano. Muita felicidade para mim, e nem imagino o tamanho da alegria do Job! Em 2010 ainda nas veste do Libolo. 5º lugar foi a nossa classificação deste ano de memórias tristes. Em 2011 foi o ano em que fiz umas das melhores contratações da minha vida. Onde busquei a minha estabilidade financeira, jogar no 1º de agosto. Sonho realizado. Mas infelizmente tudo que tinha para dar não pude fazer, pelos inúmeros problemas de lesões. Mas ainda assim consegui deixar um pouco do meu perfume sempre que jogasse. 2012 A mesma coisa. Mas consegui terminar o meu contrato, e fui a busca de outros desafios desta vez no Progresso do Sambizanga onde renasci e voltei a conhecer alegria de jogar futebol. Foram dois anos bons. 2013/14. Em 2015 assino pelo Interclube, onde no primeiro ano foi um espetáculo na minha humilde opinião. Marquei golos, dei muitas assistências, enfim. Sorriso no rosto e muitos prémios na conta (risos). 2016, Começo do ano frustrado, fui obrigado a sair de Luanda para voltar em Calulo (Libolo). Joguei muita bola naquele meu regresso a Calulo, onde fomos honrados com o título da Taça de Angola depois voltei a Luanda ao serviço do Kabuscorp. Um ano de muita alegria, pena nos tirarem 12 pontos naquele ano. E engraçado que depois volto a Calulo outra vez e 2020/21 joguei no Cuando Cubango onde dei por fim à minha carreira.
Dados do seu BI:
Wilson Fernandes Augusto Macamo
Filho de Pedro Laurentino Fernando Macamo.
E de Josefa garrido Augusto.
Nascido aos 17/9/85 Luanda Angola.
Entrevista: